04/02/2012 03:44

Mundo 04/02

 

 

ENTREVISTA-Negar abusos não é opção, diz Vaticano

CIDADE DO VATICANO- A Igreja Católica às vezes se nega a admitir os abusos de crianças por clérigos, mas precisa encarar o escândalo, disse na sexta-feira a principal autoridade eclesiástica para essa questão.

Em entrevista à TV Reuters, o monsenhor Charles Scicluna disse esperar que um importante simpósio sobre a pedofilia a ser realizado na semana que vem em Roma vai encorajar os líderes da Igreja no mundo todo a escutarem mais as vítimas.

"A negação é uma forma muito primitiva de lidar com coisas tristes", disse Scicluna, cujo título formal é o de promotor de Justiça do Vaticano.

"Não acho que a negativa jamais seja uma boa resposta. Não vou negar que estejamos em estado de negação. Acho que as pessoas sabem disso. Mas as pessoas precisam saber que temos de ir adiante em relação a esse mecanismo tão primitivo de lidar com as coisas. Ele não funciona."

O simpósio da semana que vem vai durar quatro dias, na Pontifícia Universidade Gregoriana Jesuíta, sob o título de "Rumo à Cura e à Renovação". O evento reunirá cerca de 200 pessoas, incluindo bispos, líderes de outras denominações, vítimas de abusos e psicólogos.

Os participantes vão discutir como a Igreja pode em nível mundial se tornar mais consciente do problema, assumindo um compromisso de ouvir as vítimas e evitar futuros casos de abuso. Scicluna disse que o simpósio vai salientar que isso "não só é pecado como é crime".

"Acho que partilhar da mesma dor, sofrimento, raiva e às vezes frustração é também um passo muito importante ao assumir uma determinada perspectiva e uma determinada posição, o que também pode ser um exemplo bom e benéfico para outros."

O Vaticano há anos tenta controlar o dano causado pelos casos de pedofilia em diversos países, principalmente Estados Unidos e Europa.

Grupos que representam as vítimas dizem que a Igreja precisaria se empenhar em admitir o passado, quando padres pedófilos eram transferidos de paróquia em paróquia em vez de serem entregues às autoridades. Eles cobram também mais providências para evitar que casos como esses se repitam.

No simpósio, a Igreja irá divulgar seus planos para criar na Internet um centro de aprendizado digital que ajude a proteger as crianças e as vítimas de assédio sexual.

O site terá colaboração de instituições médicas e universidades, com o objetivo de elaborar uma resposta permanente aos problemas de abuso sexual.

Será nos idiomas alemão, inglês, francês, espanhol e italiano, e se destina a ajudar bispos e outros funcionários eclesiásticos a implementarem as diretrizes do Vaticano para a proteção às crianças.

 

Fonte: Reuters

 

 

Rússia deve propor mudanças em resolução da ONU sobre Síria

NAÇÕES UNIDAS - Diplomatas do Conselho de Segurança da ONU aguardam nesta sexta-feira emendas a serem feitas pela Rússia na proposta euro-árabe de resolução que manifesta aval a um plano da Liga Árabe para a Síria, e a expectativa é de que a questão seja resolvida entre a Rússia e os Estados Unidos.

O Marrocos apresentou na quinta-feira uma versão revisada da proposta para ser votada nesta sexta-feira, mas o embaixador russo, Vitaly Churkin, disse em uma sessão a portas fechadas que vetaria o texto por declarar que a entidade "apoia totalmente" o plano árabe, que prevê o afastamento do presidente da Síria, Bashar al-Assad, segundo diplomatas.

Um diplomata ocidental relatou, no entanto, que ao final da reunião de quinta-feira os 15 países haviam concordado em princípio com o novo texto, incluindo a frase sobre "apoio total", mas que a decisão final seria tomada pelos governos envolvidos.

As primeiras notícias vindas de Moscou davam conta de que a liderança russa ainda não estava satisfeita. O vice-chanceler Gennady Gatilov disse à agência Interfax que a proposta "não é suficiente para que possamos apoiá-la nessa forma".

Diplomatas disseram à Reuters que Churkin devolveria o texto com novas sugestões ainda nesta sexta-feira. "Vamos dar uma olhada no que eles propõem", disse uma das fontes, acrescentando que "não há muito espaço para edições substanciais".

Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Catar, xeique Hamad bin Jassim al-Thani, disse à Al Jazeera que a Liga Árabe não aceitaria novas concessões.

"A versão que temos é a mínima que podemos aceitar", disse o premiê, acrescentando que, se a Rússia não apoia a atual visão, deveria usar seu poder de veto.

Diplomatas dizem que a Rússia sinaliza não ter vontade de vetar a resolução, como fizeram Moscou e Pequim numa proposta europeia de resolução, em outubro, que condenava o governo da Síria pela repressão a manifestações pró-democracia.

Os enviados afirmam que a questão provavelmente será reduzida na reunião da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, com o chanceler russo, Sergei Lavrov, que acontecerá em meio a uma conferência de segurança em Munique, no fim de semana.

Em Washington, um porta-voz do Departamento de Estado disse que Hillary e Lavrov conversaram por telefone nesta sexta-feira, sem nenhum resultado concreto.

Os diplomatas esperam que a proposta vá a votação na segunda-feira, mas não está descartada a possibilidade de uma sessão no sábado.

(Reportagem adicional de Patrick Worsnip, em Nova York; e de Arshad Mohammed, em Washington).

 

Fonte: Reuters

 

Apesar dos pedidos de calma das autoridades, Egito se aproxima do caos

Cairo - O Egito deu nesta sexta-feira mais um passo rumo ao caos que já domina as ruas do centro do Cairo, totalmente fora de controle por conta dos graves confrontos entre centenas de manifestantes e a polícia.

A ira suscitada na quarta-feira após a tragédia do estádio de Port Said, onde morreram 74 pessoas, não diminui com a passagem das horas. A impressão, pelo contrário, é que a sensação de insegurança no país aumentou.

Os torcedores radicais do clube Al-Ahly, um dos times envolvidos na batalha de Port Said, são a ponta de lança dos manifestantes que se enfrentam ferozmente com as forças de segurança, que respondem com abundante material antidistúrbios.

A escalada da violência levou os jovens a atear fogo na sede dos serviços de impostos imobiliários, um grande edifício administrativo situado na confluência entre as ruas Mohammed Mahmoud e Mansur, epicentro dos choques.

Armários e escrivaninhas da sede governamental foram utilizados como barricadas improvisadas depois que o edifício foi invadido.

Os disparos de gás lacrimogêneo e balas de borracha provocaram efeitos devastadores entre os manifestantes, deixando quatro mortos durante o dia, dois deles na cidade de Suez.

Segundo o Ministério de Saúde do Egito, mais de mil pessoas ficaram feridas, das quais 211 são policiais.

Ao contrário de outras ocasiões, como aconteceu em novembro do ano passado, o centro nervoso da revolução que depôs o regime de Hosni Mubarak, a emblemática praça Tahrir, não apoiou totalmente os manifestantes.

A cúpula dos novos protestos está composta por centenas de torcedores radicais irados e com sede de vingança, em muitos casos sem um discurso político definido e com certa inclinação à violência niilista.

As bandeiras do Al-Ahly na linha de frente mostram que o desejo de vingança por parte dos mais exaltados é evidente, e se une às reivindicações políticas dos acampados em Tahrir.

Um torcedor do Al-Ahly que pediu para ser chamado de Shinguma comentou à Agência Efe que viveu em primeira pessoa os dramáticos fatos de Port Said, onde morreram quatro amigos seus.

'Se estamos hoje aqui é em protesto pelo massacre de Port Said, mas, principalmente, porque em um ano não mudou nada e a Junta Militar é como o regime de Mubarak. Está tudo sob seu controle', lamentou.

Ahmed, médico voluntário em um hospital de campanha nessa mesma praça, considerou que a atual situação 'é parecida com a de novembro', quando dezenas de pessoas morreram asfixiadas pelos gases e balas de borracha disparadas pela polícia.

'Atendemos centenas de pessoas, a maioria com sintomas de asfixia, mas também bastantes casos de lesões por balas de borracha', detalhou.

Apesar de esporadicamente haver pequenas tréguas na violência, a situação piorou no início da noite, o que levou a Junta Militar a divulgar um comunicado em tom dramático.

Mais uma vez, os generais acusaram 'partes estrangeiras' que movimentam os fios de uma conspiração para desestabilizar o país, sem mencionar nomes.

'O país atravessa a etapa mais perigosa e mais importante de sua história, que requer que todos os filhos da nação egípcia se unam e se solidarizem para enterrar a discórdia', destaca a nota.

A cúpula militar constatou um 'aumento do perigo pela propagação de rumores e pela insistência de algumas partes em ameaçar as propriedades e instituições do Estado'.

A referência aos rumores parece ser uma alusão às críticas direcionadas ao Ministério do Interior e à própria Junta em relação à passividade da polícia no massacre de Port Said.

De acordo com muitos torcedores do Al-Ahly, esta impassibilidade policial e a suposta presença de agentes infiltrados na torcida local de Port Said teriam sido uma vingança do regime contra a torcida do clube cairota por seu papel na Revolução de 25 de Janeiro, que derrubou Mubarak.

Apesar de exercer um papel cada vez mais irrelevante, o primeiro-ministro Kamal Ganzuri também tentou acalmar os ânimos com um comunicado no qual pediu aos 'sábios da nação e aos jovens da revolução' para que contribuam para evitar o caos.

Fonte: Reuters

 

 

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